A história de Andrei Romanovich Chikatilo é uma das mais perturbadoras quando o assunto é assassinato em série. Extremamente cruel, ele violentou, assassinou, esquartejou e até comeu alguns dos pedaços de suas 53 vítimas.
De origem ucraniana, seus crimes ocorreram entre 1978 e 1990, e tinha como vítimas apenas crianças e mulheres.
História de vida e cenário político da época
Nascido na vila de Yabluchnoye, antiga União Soviética, Andrei Chikatilo conviveu de perto com a fome. A Segunda Guerra Mundial e as políticas agrárias da época dilaceraram várias famílias, e a mãe de Andrei, Anna, contou a ele que seu irmão foi devorado pelos vizinhos num ato de canibalismo, tamanha era a fome da população.
Seu pai Roman, militar russo, acabou sendo aprisionado durante a Segunda Guerra Mundial, deixando a incumbência de criar os filhos somente para Anna – fato nunca bem aceito por Andrei.
Não se sabe se a história sobre o irmão era verdadeira ou apenas um devaneio da mãe, nunca foram encontrados registros do nascimento de Stepan, e anos depois sua mãe entrou em um quadro severo de demência. Na escola, apesar de ótimo aluno, era tímido e tinha dificuldade em fazer amigos.
Constantemente Andrei sofria bullying dos colegas por ter incontinência urinária, os atos iam de humilhações em público até agressões físicas.
Na adolescência, o garoto descobriu um quadro de impotência sexual que veio para completar o pacote de baixa autoestima que carregava desde a infância. Isso fez com que ele focasse muitos nos estudos, enquanto os colegas estavam conquistando as primeiras namoradas.
Andrei chegou a confessar que tentou ter relações sexuais com meninas da sua escola na época, mas todas as tentativas foram frustradas pela impotência.
Professor de séries iniciais e membro do partido comunista
No início da fase adulta casou-se e teve dois filhos, segundo rumores as crianças foram concebidas de maneira não usual: Andrei teria se masturbado e depois introduzido o sêmen na parceira com o uso de uma seringa.
Já na fase adulta, aos 34 anos, Andrei era professor de séries iniciais e isso o deixava muito perto de crianças. Ele passou a desenvolver um desejo sexual obscuro e chegou a ser expulso de uma das escolas acusado de molestar um aluno.
Desempregado e convicto de que havia sido demitido por fazer parte do partido comunista, Andrei e a família se mudaram para Shakhty e compraram uma casa no campo. A região era cercada por uma floresta e foi ali que Andrei fez sua primeira vítima.
Andrei Chikatilo mata uma menina de 9 anos
Sua primeira vítima foi uma garota de nove anos de idade. Andrei a abordou em uma parada de ônibus às margens da rodovia, quando percebeu que ela havia perdido o ônibus escolar, lhe ofereceu uma carona e a disse que quando chegassem na casa dela, ele explicaria tudo para a sua mãe, evitando assim que ficasse de castigo pelo atraso.
Andrei a levou para dentro da floresta com a desculpa de que seu carro estava estacionado do outro lado das árvores. Então Chikatilo a violentou, cortou sua língua e desmembrou seu corpo. Sequer se preocupou em ocultar o cadáver, deixando-o ali em meio a floresta.
Trabalhando para o partido comunista Russo
Suas falas nada convencionais e por vezes tão enraizadas em ideais comunistas lhe renderam um convite para um cargo de confiança no partido. A partir desse momento, Andrei passou a viajar muito de trem pelo país e novos assassinatos começaram a se espalhar pelo território soviético.
Seus alvos preferidos eram crianças e prostitutas, elas eram capturadas em pontos de ônibus e estações de trem. Eram mutiladas, seus olhos eram perfurados, pedaços de seus corpos eram arrancados a mordidas e os restos mortais eram abandonados na floresta.
Ele amarrava as vítimas com os braços para trás e tentava estuprá-las, após fracassar por causa de sua impotência, as esfaqueava repetidamente. Em alguns casos, desfigurava os órgãos genitais de suas vítimas e dilacerava suas línguas para que não pudessem gritar.
A crueldade de seus crimes era tamanha, que muitas pessoas achavam que as mortes haviam sido provocadas por animais de grande porte que viviam na floresta.
A situação no país começou a se tornar insustentável e as famílias das vítimas estavam desesperadas por respostas. No entanto, o partido comunista se recusava a admitir que havia um criminoso em série a solta, já que naquela época, no auge da Guerra Fria, a União Soviética encobria qualquer acontecimento que pudesse manchar a imagem de seu país.
Mikhail Fetisov e a prisão de Andrei Chikatilo
Diante da pressão popular foi necessário aumentar esforços, a polícia, sob liderança de Mikhail Fetisov, traçou o perfil do assassino e passou a coletar esperma de todos os homens que ali se encaixassem na tentativa de obter semelhança com o material genético encontrado nas cenas.
A tecnologia da época não oferecia grande clareza sobre os resultados, basicamente as amostras apenas eliminavam alguns suspeitos.
A polícia espalhou agentes disfarçados em estações de trem do interior e no dia 19 de Novembro de 1990, Andrei foi visto saindo de uma floresta com o rosto e roupas cobertos por sangue.
Ele disse a polícia que costumava abater animais de caça, porém essa história não convenceu as autoridades, mas que sem provas foram forçadas a liberá-lo.
Tudo mudou no dia seguinte, quando mais um corpo foi encontrado no local. Em 20 de Novembro de 1990, Andrei Chikatilo foi preso, mas seguia negando qualquer acusação e levando tudo para o viés político, onde ele seria apenas uma vítima daqueles que eram contra o comunismo.
A polícia de Rostov decidiu pedir ajuda do psiquiatra Alexander Bukhanovsky para conseguir uma confissão de Chikatilo. Pela lei soviética da época, eles tinham dez dias para que o acusado admitisse o crime. Até o nono, nenhum avanço. Foi aí que Bukhanovsky entrou em cena e Andrei confessou.
“Eu expliquei a ele que eu não era seu inimigo, nem um advogado. Em linguagem médica, eu sabia a diferença entre culpado e errado.”
Bukhanovsky ao “Biography Channel”, em 2004.
Julgamento e sentença de morte
Ele confessou como assassinou cruelmente 56 pessoas, mostrando toda a selvageria de seus atos e dando detalhes, tudo isso enquanto se deleitava em sorrisos. A polícia, entretanto, encontrou somente 53 corpos.
Seu julgamento levou 6 meses, e como é comum nestes casos, vide por exemplo as histórias de Ed Kemper e Aileen Wuornos, a defesa tentou alegar insanidade mental do réu.
Mas durante seus depoimentos, ele se mostrou totalmente capaz de compreender a crueldade de seus atos e a forma como falava dos crimes mostrava o quanto sentiu prazer em cometê-los.
A revolta dos familiares das vítimas fez com que ele ficasse dentro de uma jaula com grades de ferro durante o depoimento. Em um determinado momento, o criminoso chegou a abaixar as calças e mostrar os órgãos genitais para o público.
O juiz não aceitou a alegação de doença mental, e Andrei foi condenado a pena de morte em 1994. Em 15 de fevereiro do mesmo ano, ele foi levado a uma cela privativa na prisão de Rostov e morto com um único tiro atrás da orelha direita.
Açougueiro de Rostov
Um dos apelidos de Andrei Chikatilo é Açougueiro de Rostov. Sendo Rostov a cidade onde ele cometeu a maioria dos seus crimes.
O erro surgiu após uma análise equivocada da polícia. Os investigadores acharam que uma das vítimas havia sido triturada por uma máquina agrícola. Na verdade, ela foi morta por Chikatilo e teve seu corpo completamente mutilado pelo criminoso.
Curiosidades sobre o caso
Na maioria das vezes, posteriormente ao crime, Chikatilo alimentava-se dos genitais das vítimas. Além disso, costumava dilacerar a língua de suas vítima com os dentes, para impossibilitá-las de gritar por socorro.
Em seu julgamento, Chikatilo definiu-se como um “aborto da natureza”, “uma besta louca”, ao qual “só restava a condenação à pena de morte, o que seria até pouco para ele”, nas palavras do próprio.
“Quero que meu cérebro seja desmontado pedaço por pedaço, e examinado, de modo que não haja outros como eu”.
Disse Andrei, ao receber a sentença de morte.
Como forma de comemoração aos 300 anos da polícia local, a cidade de Rostov exibe os pertences do “açougueiro” em um de seus museus.