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Jennifer Pan, a vingança contra os pais

Jennifer Pan, aos 24 anos planejou o assassinato dos pais. Ela acreditava que esse seria o único jeito de acabar com a pressão familiar.

Jennifer Pan nasceu em 17 de junho de 1986, filha de Bich Ha e Huei Hann Pan. Ela também tinha um irmão chamado Félix, três anos mais novo.

Os pais de Jennifer eram imigrantes vietnamitas, e migraram para o Canadá em 1979 como refugiados políticos. Eles se casaram em Toronto e moraram em Scarborough. 

Apesar de não falarem inglês, os dois rapidamente encontraram empregos na fabricante de autopeças Magna International, com sede em Aurora. Hann como fabricante de ferramentas e moldes e Bich fabricando peças para carros.

Pais de Jennifer Pan. / Foto: Reprodução.

O casal trabalhava muito e parecia economizar cada centavo para o futuro. No ano de 2004, eles conseguiram comprar sua primeira casa. Com garagem para dois carros em uma rua residencial tranquila em Markham, a casa era a concretização do esforço de uma vida. Ele dirigia um Mercedes-Benz e ela um Lexus ES 300, e eles acumularam alguns milhares de dólares no banco.

Filha de sucesso

Eles matricularam Jennifer em aulas de piano aos quatro anos, e ela se mostrou promissora desde cedo. No ensino fundamental, acumulava uma estante de troféus cheia de prêmios. 

Eles a colocaram na patinação artística e ela esperava competir em nível nacional em Vancouver, até romper um ligamento do joelho. Fora da escola, Jennifer nadou e praticou a arte marcial do wushu.

Residência Pan. / Foto: Reprodução.

Não suportava ser vista como um fracasso

Algumas noites durante o ensino fundamental, Jennifer voltava do treino de patinação às 22h, fazia o dever de casa até meia-noite e depois ia para a cama. A pressão era intensa. Ela começou a se auto mutilar fazendo pequenos cortes em seus antebraços.

Jennifer se cobrava muito ao mesmo tempo em que seus pais colocavam altas expectativas na garota. À medida que se aproximava a formatura da 8ª série, Jennifer esperava ser nomeada oradora da turma e receber honras por suas realizações acadêmicas. Mas nenhuma das duas coisas aconteceu.

Colegas de escola comentaram que Jennifer se referia ao pai como “Tiger Dad”, o que na cultura asiática faz referência a um pai rígido, altamente focado nas conquistas de seus filhos. Para eles, quando as crianças falham é uma falha dos pais. 

O casal buscava Jennifer todos os dias ao final da aula. Monitoravam suas atividades extracurriculares de perto. Eles nunca permitiram que ela namorasse ou frequentasse os bailes do colégio por medo de que essas atividades a distraíssem de seus compromissos acadêmicos. 

Mentirosa profissional

Quando a garota entrou no ensino médio seu rendimento escolar caiu muito. Suas notas que eram sempre 10 estavam beirando o 7, o que não é nada mal para a maioria dos alunos, mas não era assim que seus pais pensavam.

A alternativa que Jennifer encontrou para sanar essa pressão foi a de mentir, ela estava disposta a fazer tudo que fosse possível para que seus pais acreditassem que ela estava atendendo às expectativas.

Na mesma época começou a namorar Daniel Chi-Kwong Wong, de ascendência chinesa e filipina. Ele era traficante de maconha e trabalhava como atendente de cozinha em um restaurante. Daniel tirava notas baixas e não estava preocupado com o futuro. Os pais não faziam ideia da relação.

Jennifer forjou boletins várias vezes usando modelos falsos, fazendo-os pensar que ela tirou nota máxima. No último ano Jennifer foi reprovada em cálculo. Contar aos pais não era uma opção, então precisou inventar uma história.

A filha disse aos pais que como sua turma era muito grande, os alunos tinham direito somente a um convite para a formatura do ensino médio. Sendo assim, Jennifer achou injusto ter que optar por um dos pais e que era melhor que eles não fossem. No lugar ela convidaria um amigo. Eles acreditaram.

Cursando uma falsa universidade

Algumas semanas depois, Jennifer contou aos pais que havia sido admitida na faculdade para o curso de farmacologia, alegando falsamente que havia aceitado uma oferta da Universidade de Toronto.

Ela chegou ao ponto de comprar livros didáticos de segunda mão e assistir a vídeos relacionados à farmacologia para criar cadernos cheios de anotações de aula que poderia mostrar aos pais. Ela também frequentava a biblioteca municipal, onde fingia estar realizando trabalhos para a faculdade.

No resto do tempo que fingia estar em aula, Jennifer se sentava em cafés, dava aulas como instrutora de piano e trabalhava como garçonete no mesmo restaurante do namorado.

Jennifer também pediu permissão aos pais para dormir três dias por semana na casa de uma amiga que morava perto do campus, era outra mentira. Jennifer ficava na casa de Daniel, onde também mentia para os pais do menino, dizendo que seus pais concordavam em ela estar ali.

Castelos de areia sempre desmoronam

Como forma de justificar mais tempo fora de casa, Jennifer disse aos pais que começou a trabalhar como voluntária em um hospital infantil. A mãe começou a desconfiar, já que ela nao tinha uniforme ou crachá da instituição.

Em uma ocasião, a mãe seguiu a filha para “trabalhar” e rapidamente descobriu a verdade. Furioso, o pai queria expulsar Jennifer de casa, mas a mãe o convenceu a deixá-la ficar, mas haveriam condições.

Como ela não havia concluído o ensino médio, seus pais ordenaram que o fizesse. Logo depois ela deveria se inscrever na universidade, já o namoro foi extremamente proibido. Ela não podia entrar na internet ou usar o celular. Os pais permitiam que ela saísse somente para dar aulas de piano, período este em que sempre dava um jeito de ver o namorado.

Planos de assassinato

Na primavera de 2010, Jennifer se reencontrou com Andrew Montemayor, um amigo da escola primária. De acordo com as evidências no tribunal, ele se gabou de roubar pessoas com uma faca no parque perto de sua casa (uma afirmação que ele nega). 

Quando Jennifer contou a ele sobre seu relacionamento torturante com o pai, Montemayor confessou que já havia considerado matar o próprio pai. 

A ideia atraiu Jennifer, que começou a imaginar como sua vida seria muito melhor sem o pai por perto. Montemayor apresentou Jennifer a seu colega de quarto, Ricardo Duncan. Juntos eles traçaram um plano para Duncan assassinar seu pai no estacionamento do trabalho.

Ela diz que deu a Duncan $ 1.500 e eles concordaram em se falar mais tarde por telefone para combinar a data e a hora. Mas Duncan parou de atender suas ligações e, no início de julho, Jennifer percebeu que havia sido roubada.

De acordo com a polícia, foi nesse momento que Daniel e Jennifer arquitetaram um plano ainda mais cruel: contratariam um assassino para matar os pais da garota, receberiam sua parte da herança (cerca de $ 500.000) e viveriam juntos, sem precisar acatar ordens de ninguém.

Execução

Daniel deu a Jennifer um iPhone e a apresentou a um conhecido chamado Lenford Crawford, a quem ele chamava de Homeboy. Jennifer perguntou qual era o preço para um assassinato. Crawford disse que era $ 20.000, mas para um amigo de Daniel poderia ser feito por $ 10.000. 

Na manhã de 8 de novembro, Crawford mandou uma mensagem para Jennifer: “Depois do trabalho, ok, será hora do jogo.” Felix, que estudava engenharia na McMaster University, não estava em casa.

Por volta das 21h30, a mãe de Jennifer voltou da aula de dança, vestiu o pijama e ficou em frente à TV no andar principal. Às 21h35, um homem chamado David Mylvaganam, amigo de Crawford, ligou para Jennifer e eles conversaram por quase dois minutos. 

Jennifer desceu para dar boa noite à mãe e, como ela admitiu mais tarde, destrancou a porta da frente.

Às 22h02, a luz do escritório do andar de cima acendeu, era um sinal para os invasores e, um minuto depois, apagou. Às 22h05, Mylvaganam ligou novamente, e ele e Jennifer conversaram por três minutos e meio. Momentos depois, Crawford, Mylvaganam e um terceiro homem chamado Eric Carty entraram pela porta da frente, todos os três estavam armados.

Levados para o porão

Um dos garotos apontou sua arma para a mãe de Jennifer enquanto outro subiu as escadas. Lá ele apontou sua arma para o rosto de Hann e o mandou descer da cama, o criminoso o seguiu com a mira em sua cabeça até a sala de estar.

No andar de cima, Carty encontrou Jennifer do lado de fora da porta de seu quarto. Prontamente ela entregou aproximadamente $ 2.500 em dinheiro, e depois mais $ 1.100 que estavam na mesa de cabeceira da mãe.

Carty amarrou os braços de Jennifer no corrimão, enquanto Mylvaganam e Crawford levaram Bich e Hann para o porão e cobriram suas cabeças com cobertores. Eles atiraram em Hann duas vezes, uma no ombro e outra no rosto. Ele caiu no chão. Eles atiraram em Bich três vezes na cabeça, que morreu na hora, e então fugiram pela porta da frente.

“Ajude-me, por favor! Eu preciso de ajuda!”

Jennifer de alguma forma conseguiu alcançar o iPhone, enfiado no cós da calça, e discar 911 apesar de ter as mãos amarradas nas costas.

“Ajude-me, por favor! Eu preciso de ajuda!” ela chorou. “Não sei onde estão meus pais! … Por favor, venham rápido!” Na marca de 34 segundos da chamada, o inesperado acontece: Hann pode ser ouvido gemendo ao fundo. Ele acordou, coberto de sangue, viu a esposa morta e subiu as escadas até o andar principal.

Jennifer gritou que estava ligando para o 911. Hann saiu gritando, e encontrou seu vizinho assustado na garagem ao lado. O vizinho ligou novamente para o 911. A polícia e uma ambulância chegaram ao local minutos depois, Hann foi levado às pressas para um hospital.

Jennifer e o irmão durante o velório de Bich. / Foto: Reprodução

Enrolada nas próprias mentiras

Na noite seguinte ao assassinato, Jennifer passou por sua primeira entrevista com a polícia. Ela foi presa em 22 de novembro de 2010, durante sua terceira entrevista na delegacia. Quando os policiais disseram “sabemos de tudo”, Pan admitiu que havia contratado os assassinos, mas alegou que os contratou para matá-la e não seus pais.

Ela deu todas as informações sobre os garotos e eles foram presos.

Jennifer durante depoimento policial. / Foto: Reprodução

O julgamento da garota e seus cúmplices começou em 19 de março de 2014 e durou dez meses. Todos se declararam inocentes das acusações. No julgamento, as evidências incluíram rastreamento exaustivo dos celulares, encontrando mais de 100 mensagens enviadas entre Jennifer e o namorado nas seis horas anteriores ao assassinato.

Jennifer Pan, Wong, Mylvaganam e Crawford foram todos condenados em 13 de dezembro de 2014 e cada um recebeu uma sentença de prisão perpétua sem chance de liberdade condicional por 25 anos.

O pai e o irmão de Jennifer solicitaram uma ordem judicial que a proibia de entrar em contato com membros de sua família sobrevivente novamente, o que não lhes foi deferido.

Desde 2016, Jennifer Pan está encarcerada no Gran Valley Institution for Women em Kitchener, Ontário.

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