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Yara Gambirasio, o crime que virou filme na Netflix

Yara Gambirasio desapareceu aos 13 anos e foi encontrada morta. Após uma minuciosa análise forense, segredos familiares vieram à tona revelando o culpado.

Yara Gambirasio nasceu no dia 21 de maio de 1997 em uma família italiana. Ela morava em Brembate di Sopra, um lugar tranquilo que fica a uma hora ao norte de Milão com uma população de oito mil habitantes.

A família era composta por quatro filhos, Yara tinha uma irmã mais velha de quinze anos e dois irmãos mais novos. Ela tinha treze anos de idade quando o caso aconteceu. Yara era uma pré-adolescente que amava a ginástica rítmica e passava horas treinando para suas apresentações.

Yara Gambirasio, sua mãe e irmãos mais novos. / Foto: Reprodução.

Desaparecimento

Na sexta-feira, dia 26 de novembro de 2010, às 17h15 Yara saiu de casa pra ir ao ginásio onde seus colegas estavam treinando para um campeonato. Naquele dia em específico Yara não pretendia treinar, estava apenas levando um aparelho de som para os treinos.

As horas foram passando e os pais de Yara começam a ficar preocupados. Ela havia garantido a eles que não ia demorar e o ginásio ficava bem próximo de sua casa.

Por volta das 19h11 daquele dia os pais começaram a ligar para o celular da filha. Todas as ligações foram direto para caixa de mensagens. Cerca de 20min após eles decidem entrar em contato com a polícia.

Buscas policiais

A ligação foi feita ao centro da capital da província de Bérgamo e quem atendeu foi a detetive Letícia Rugger. Rapidamente os policiais foram para o ginásio, chegando lá eles conversaram com o instrutor de ginástica que confirmou tê-la visto.

Ele disse que Yara levou o aparelho de som e aproveitou para fazer um treino rápido com os colegas, indo embora em seguida.

Ao rastrear o celular da Yara, o último registro era uma mensagem que ela havia mandado para uma amiga chamada Martina, às 18h44, onde elas combinavam de se encontrar no domingo às 8h para o campeonato.

Algumas pessoas disseram que viram dois homens possivelmente conversando com a garota naquele dia. Então, a detetive decidiu trazer cães farejadores e ao invés deles seguirem a rota esperada, foram em direção a uma pequena aldeia próxima chamada Mapelo.

A família de Yara foi entrevistada e logo nos primeiros dias de investigação todos os telefones foram grampeados. Os investigadores rastrearam todos os proprietários de telefones que passaram por uma mesma antena naquele dia. Cerca de 15 mil números foram checados e um deles pertencia a um marroquino chamado Mohamed.

Primeiro suspeito

Letícia Rugger chamou um intérprete para traduzir uma conversa telefônica de Mohamed no final do novembro. Segundo o intérprete ele teria dito: Perdoe-me Deus, eu não a matei.

Somado a isso os investigadores descobriram que Mohamed estava trabalhando em um estaleiro que fica em Mapelo. No dia 4 de dezembro um navio em que o suspeito estava, foi interceptado e ele foi levado sob custódia.

A polícia também revistou a van de Mohamed e descobriu um colchão que parecia ter manchas de sangue. Mas, logo em seguida ele foi descartado como um suspeito.

Segundo a própria polícia, o intérprete traduziu a ligação telefônica de Mohamed de maneira equivocada e não havia material biológico ou qualquer outra evidência que o colocasse na cena do crime.

Corpo encontrado

Em 26 de fevereiro de 2011 em Chignolo d’Isola, a 10km de Brembate di Sopra o corpo de Yara foi encontrado. Ele apresentava vários cortes superficiais, possivelmente feitos por um objeto pontiagudo, como prego ou faca, e um grande ferimento na cabeça.

Local onde o corpo de Yara foi encontrado. / Foto: Reprodução.

Detalhes vazados da investigação sugeriram que a morte foi causada pela combinação de uma pancada na cabeça e hipotermia. Apesar do sutiã da vítima ter sido encontrado ao lado do corpo, não havia indícios de abuso sexual.

Material genético nas roupas íntimas

Um traço de material genético masculino foi retirado da roupa íntima que Yara usava no dia do crime, o perfil foi apelidado pela polícia de “Desconhecido 1”. A única coisa que se podia afirmar com certeza era que o assassino tinha olhos verdes ou azuis muito claros.

Nos meses que se seguiram, mais de 22 mil perfis foram comparados com a amostra coletada. A polícia estava mobilizando intensos esforços financeiros, mas o caso não parecia andar.

Perfil encontrado

Os investigadores do caso Yara nunca se deram por vencidos. Nos anos que se seguiram, com o auxílio da tecnologia forense, foi possível estabelecer a árvore genealógica completa do assassino.

As raízes dessa árvore levavam até a Vila de Gorno, um lugar mais afastado na mesma região. O local é bem pequeno, com cerca de 1600 habitantes e você precisa enfrentar uma estrada ruim e com curvas fechadas para chegar até lá.

As família que moram lá estão há séculos no mesmo local, esse foi um prato cheio para a investigação que passou a analisar uma por uma. O perfil familiar que cruzava em cheio com a amostra era o da família Guerinoni, bastante conhecida e respeitada no local.

Lá ainda residia a viúva de Giuseppe Guerinoni, Laura Poli. Ela foi entrevistada pelos investigadores em setembro de 2011. Como Giuseppe havia falecido em 1999 e a polícia estava em busca do cromossomo “Y” da família, Laura forneceu dois selos postais que ele havia lambido e estavam colados em cartões.

Após analisar a amostra, os geneticistas estavam convencidos de que Giuseppe era pai do “Desconhecido 1”. Laura e o marido tiveram três filhos, dois meninos e uma menina, mas o perfil de nenhum dos garotos batia com o perfil coletado na cena.

Para os investigadores estava claro que Giuseppe teve um filho fora do casamento.

Indo a fundo na investigação

A polícia passou a investigar minuciosamente a vida de Giuseppe Guerinoni, ele era motorista de ônibus e conhecido por seus amigos por ser um tanto mulherengo.

Apesar dos rumores, foi extremamente difícil para a polícia localizar a mãe do “Desconhecido 1”, já que a família de Giuseppe sequer desconfiava que ele mantinha relações extraconjugais.

Uma mutação genética no DNA do “Desconhecido 1”, que não estava presente no DNA de Giuseppe foi decisiva para a investigação. Essa mutação estava relacionada ao DNA mitocondrial, ou seja, era algo herdado apenas de sua mãe.

Uma das linhas investigativas sugeria que a mulher poderia ser uma das passageiras de ônibus de Giuseppe, já que por muitos anos ele transportou mulheres até fábricas onde elas trabalhavam. Muitos trabalhadores foram entrevistados, mas nada concreto foi encontrado.

Informante anônimo

Somente no ano de 2014, um desses trabalhadores entrevistados revelou o nome de Ester Arzuffi. Ele teve a sua identidade protegida pela polícia e até hoje não foi possível identificá-lo.

Ester Arzuffi. / Foto: Reprodução.

O DNA de Ester encaixou perfeitamente bem como a última peça que faltava. Ela foi vizinha da família Guerinoni no final dos anos 1960, além disso trabalhava em uma fábrica têxtil da região e pegava ônibus com Giuseppe todos os dias.

No outono de 1970, Ester deu à luz a gêmeos, comprovadamente filhos de Giuseppe Guerinoni. O garoto se chamava Massimo Giuseppe Bossetti. Ester, mesmo ocultando a real paternidade, colocou o nome do amante como o segundo nome de seu filho.

Finalmente preso

Em 16 de junho de 2014, um pedreiro italiano que vivia e trabalhava na área, Massimo Giuseppe Bossetti, foi preso e acusado de ser o assassino, principalmente em virtude de seu DNA corresponder ao “Desconhecido 1”. 

Massimo Bossetti. / Foto: Reprodução.

Massimo Bossetti sempre afirmou ser inocente, afirmando que sofria de hemorragias nasais e que alguém havia roubado suas ferramentas de trabalho, incluindo uma faca, um furador e uma espátula, possivelmente suja de sangue.

Segundo ele, a prova de DNA foi fabricada, devido à exposição excessiva a intempéries ou contaminação cruzada. Além disso, seu histórico de busca na internet era no mínimo preocupante, pois revelava uma obsessão por garotas adolescentes.

Registros do telefone de Massimo também revelavam que ele esteve na mesma região onde o crime foi cometido naquele dia. Ademais, os dados de GPS do carro do acusado indicavam que por várias vezes ele dirigiu na mesma rua onde Yara morava e também costumava estacionar na rua de trás do ginásio.

Em 1º de julho de 2016, a Corte d’Assise de Bergamo condenou Massimo Bossetti à prisão perpétua. Ele tentou recorrer diversas vezes, mas segue cumprindo sua pena na Itália.

Detalhes sobre o caso

Nenhum dos três filhos de Ester Arzuffi era filho biológico de seu marido, Giovanni Bossetti. O homem só soube disso através da investigação do caso Yara, e recebeu a fatídica notícia no fim da vida enquanto lutava contra uma doença terminal.

Ester segue negando que foi infiel ao marido, mesmo que os testes genéticos provem o contrário.

A instrutora da academia, Silvia Brena, chamou a atenção da defesa de Massimo Bossetti. O sangue dela foi encontrado nas mangas da jaqueta de Yara, identificado por DNA. Na noite do desaparecimento de Yara, o pai de Silvia Brena disse que ela chorou a noite toda, embora ela não tenha dado motivos para isso. 

Sob interrogatório, ela disse que não se lembrava de nada e não conseguia explicar por que ela e seu irmão haviam trocado mensagens de texto na época do desaparecimento de Yara, as quais eles quase imediatamente apagaram sem deletar outras mensagens enviadas antes e depois.

Grande parte dos recursos de Massimo foram baseados neste fato. Porém sem sucesso.

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