Eu sentia uma espécie de fome, eu não sei como descrevê-la, uma compulsão e eu apenas continuei fazendo e fazendo novamente, sempre que a oportunidade aparecia.
Jeffrey Lionel Dahmer
Infância de Jeffrey Dahmer
Fruto de uma gravidez complicada, onde a mãe sofreu com muitas náuseas e vômitos, quase que como se estivesse “rejeitando” o filho, Jeffrey Dahmer cresceu em um lar conturbado e com muitas brigas entre os pais. O pai era químico e a mãe instrutora de máquinas.
O pai, Lionel, era pouco participativo na vida familiar e não realizava nenhuma tarefa. Tal condição sobrecarregava demais Joyce sua esposa, que com dois filhos Jeffrey e David, se via em intensos conflitos psicológicos.
Quando ainda criança, seus pais se mudaram com ele para Bath, Ohio, onde estudou na Revere High School. Lá, jogava tênis e tocava clarinete.
Dahmer foi inicialmente descrito como uma criança “enérgica e feliz” mas seu temperamento mudou quando passou por uma cirurgia de hérnia inguinal, pouco antes do seu aniversário de quatro anos.
Paralelo a isso, o casamento dos seus pais se deteriorou, com as brigas e gritarias se tornando frequentes ao longo dos anos.
Assim, conforme foi crescendo, passou a se tornar um solitário e sem receber muito afeto em casa, com seu pai ocupado com suas conquistas acadêmicas e sua mãe sofrendo com várias doenças que a tornaram viciada em remédios.
Adolescência
Em 1970, aos 10 anos, Dahmer perguntou ao seu pai Lionel o que aconteceria se ossos de galinha, que eles estavam comendo no jantar, fossem banhados em alvejante.
Lionel, acreditando que isso era apenas uma curiosidade normal de criança, demonstrou como usar alvejante e outros produtos químicos e preservar com segurança ossos de animais. Dahmer incorporaria essas técnicas para preservar os ossos de suas vítimas no futuro.
Muitos dos colegas de escola de Dahmer o descreviam como “estranho” e “bizarro” por causa das constantes brincadeiras que praticava, que eram parte de uma tentativa de Dahmer de se entrosar entre os colegas, algo em vão.
Ele costumava fingir ataques epilépticos e fazia outras brincadeiras que os alunos de sua escola achavam estranhas, mas estimulavam tal comportamento pois achavam engraçado. Aos 15 anos, seus poucos amigos perceberam que ele era alcoólatra. Posteriormente, Dahmer confirmou que seus desejos e fantasias assassinas começaram nessa época, mas não por causa do alcoolismo.
Jeffrey bebia para poder esquecer as coisas que pensava. Ainda na sua adolescência, dissecava animais mortos que encontrava na estrada e tinha até um cemitério particular nos fundos de sua casa.
Quando chegou a puberdade, Dahmer se descobriu como homossexual, algo que escondeu dos pais. No começo de sua adolescência, ele teve um breve relacionamento com um garoto de idade próxima a dele, embora não tenham feito sexo.
Mais tarde, Dahmer confessou que começou a fantasiar sobre dominação e de exercer completo controle sobre um parceiro submisso. Essas fantasias gradualmente se entrelaçaram com seus hábitos de dissecação.
Quando ele tinha por volta de 16 anos, Dahmer concebeu uma fantasia onde deixaria um homem inconsciente, particularmente um corredor que ele achava atraente e então fazer uso sexual do seu corpo.
Em uma ocasião, ele se escondeu no mato com um taco de beisebol com o intuito de atacar esse homem em uma de suas corridas matinais; contudo, exatamente naquele dia, o homem não saiu para suas corridas. Dahmer posteriormente disse que esta foi a primeira vez que planejou matar alguém.
Em 1977, suas notas caíram muito. Naquele mesmo ano, seus pais se separaram. No ano seguinte, conseguiu se formar no ensino médio ao mesmo tempo que seu pai deixou a casa. Alguns meses depois, Dahmer foi abandonado por sua mãe e deixado, então, sem comida, sem dinheiro e com uma geladeira quebrada, com apenas 18 anos.
Após o divórcio dos seus pais se formalizar, seu pai se mudou para um hotel próximo, enquanto sua mãe firmou residência em Chippewa Falls, Wisconsin, junto com o irmão mais novo dele, David.
Primeiro assassinato de Jeffrey Dahmer
Dahmer cometeu seu primeiro assassinato em 1978, três semanas após sua formatura do colegial. Naquele momento ele já estava morando sozinho. No dia 18 de junho, enquanto dirigia seu carro, ele viu, no canto da estrada, o jovem Steven Hicks (de quase 19 anos), pedindo carona.
Ele convidou o garoto para ir até sua casa para beber álcool e se distrair um pouco. Hicks, que estava a caminho de um show de música em Lockwood Corners, concordou e os dois ficaram bebendo e ouvindo música por algumas horas. Então Steven Hicks se levantou e disse que estava indo embora, mas Dahmer não queria que ele partisse.
Quando Hicks deu as costas para ele, Dahmer o acertou duas vezes com um haltere de 5 kg. Quando o garoto caiu inconsciente, ele o estrangulou até a morte com a barra do haltere. Dahmer então retirou as roupas de Hicks e se masturbou em cima do corpo dele.
No dia seguinte, ele levou o seu corpo até o porão e o dissecou, enterrando o seus restos no quintal de trás. Semanas mais tarde, ele exumou o corpo e retirou a carne dos ossos com uma faca.
Dahmer depois dissolveu a carne em ácido e se livrou de tudo pela privada. Ele então pegou uma marreta e destruiu os ossos de Hicks.
As coisas saem do controle
Seis semanas após o assassinato de Hicks, o pai de Dahmer e sua nova noiva voltaram para casa e viram que ele estava morando sozinho, abandonado. A pedido do pai, no outono, ele se matriculou na Universidade Estadual de Ohio, mas ficou apenas um semestre.
Naquela altura, seu abuso com as bebidas alcoólicas estava fora de controle. Seu pai o visitou certa vez e encontrou o filho bêbado no dormitório. Com notas muito baixas e desinteressado, Dahmer largou a faculdade depois de três meses.
Em janeiro de 1979, por insistência do pai, Dahmer se alistou no exército. Ele fez seu treinamento básico em Forte Sam Houston, em San Antonio, e depois foi transferido para Baumholder, na Alemanha Ocidental.
Ele foi descrito como um soldado normal, com uma folha de serviço comum. Porém, mais tarde, dois militares afirmaram que teriam sido estuprados por Dahmer. Um dos soldados afirmou que Dahmer o drogou e estuprou seu corpo dentro de um veículo blindado de transporte de pessoal.
Durante os primeiros meses do seu serviço, ele conseguiu controlar seus impulsos, mas o problema com álcool retornou e sua performance no exército se deteriorou ao ponto que, em 1981, ele recebeu uma dispensa honrosa e uma passagem de avião para ir para onde quisesse dentro do país.
Ele então foi para Miami Beach, afirmando que não podia voltar para Ohio pois não queria encarar a decepção do seu pai por outro fracasso. Ele conseguiu alguns empregos, gastando o pouco dinheiro que tinha com bebidas. Pouco tempo depois Dahmer ligou para seu pai e pediu para voltar para casa.
Tentativa de recuperação
Ele passou semanas com o pai e a madrasta, realizando tarefas domésticas enquanto procurava por um emprego. Seu problema com álcool não diminuiu e ele chegou a ser preso por aparecer bêbado em público.
Seu pai tentou buscar ajuda para o filho mas sem sucesso. Então ele pediu para Dahmer se mudar para West Allis, no leste de Wisconsin, para morar com a avó. Os dois tinham um bom relacionamento e seu pai esperava que a influência dela nele podia ser positiva.
Inicialmente, Dahmer viveu bem com a avó, fazendo tarefas para ela, acompanhando-a a igreja, procurando emprego e, no geral, vivendo bem sob as regras que ela impunha.
No começo de 1982, ele conseguiu um emprego e parecia estar se recuperando. Porém, depois de dez meses ele foi demitido e passou os próximos dois anos desempregado, vivendo do dinheiro que sua avó lhe dava. Em 7 de agosto, ele foi preso por exposição indecente, se mostrando para 25 mulheres e crianças em local público. Ele foi condenado a pagar uma multa.
Sequência de crimes
Em janeiro de 1985, ele começou a trabalhar na fábrica de chocolate Ambrosia, em Milwaukee, das 19h da noite até as 7h da manhã. Dahmer passou então a frequentar saunas e bares gays. Nesse período, suas fantasias de dominação sexual voltaram.
Nos encontros sexuais que tinha, Dahmer se queixava que seus parceiros se moviam demais. Ele afirmou que, na época, passou a ver os outros como objetos, não pessoas. Dahmer encontrava-se com os homens, colocava sonífero em suas bebidas e depois os estuprava.
Depois de pelo menos doze incidentes deste, Dahmer foi proibido de entrar na sauna gay que frequentava. Algum tempo depois, Dahmer viu no jornal a notícia sobre o enterro de um homem de 18 anos. Ele passou então a entreter a ideia de desenterrar um corpo e abusar dele. Ele tentou fazer isso certa vez mas a escavação o cansou e o chão era duro demais.
Em agosto de 1986, Dahmer foi preso após se masturbar em frente a um garoto de 12 anos próximo ao rio Kinnickinnic. Acusado de conduta desordeira, ele foi condenado a um ano em liberdade condicional, tendo também que ver um psicólogo.
Modo de atuar de Jeffrey Dahmer
Para satisfazer a sua lascívia homossexual, seduzia as suas vítimas em boates ou sauna gays. Quando sua presa entrava em sua casa, o canibal a drogava e matava-a com suas mãos – normalmente por estrangulamento. Com a vítima morta, dava início ao seu plano macabro: torná-la uma “escrava sexual zumbi”.
Costumava masturbar-se em cima do cadáver e, logo depois, praticava sexos anal ou oral com o defunto. Logo após, “guardava” o corpo para, quando sentisse vontade, voltar a copular. Fotografava todo o processo criminoso e dizia sentir prazer ao rever as fotos.
Quando o cadáver se tornava “intragável”, abria o tórax e ficava deslumbrado com a visão anatômica do corpo humano. Disse que seu fascínio era tão grande que mantinha “relações sexuais com os órgãos”.
Após essa fase, passava, então, a esquartejar o corpo. Separava as partes que considerava “úteis” das “inúteis”. A partir daí, não tinha mais prazeres sexuais, senão gastronômicos. Isso mesmo: tinha grande apreço aos corações e tripas.
Um de seus pratos preferidos era o croquete de carne humana. Sem esquecer dos músculos fritos. Relatou que tinha ereções durante suas refeições. Acreditava que, comendo-as, as vítimas poderiam ter sobrevida dentro de seu corpo.
Uma de suas maiores decepções foi com o gosto de sangue humano: confessou não ser agradável ao seu paladar. Ao que parece aprendeu muito de química com seu pai, pois utilizava produtos químicos para transformar carnes e ossos em líquido – ao ponto de poder escoar o material humano pelo ralo.
Guardava os crânios de suas vítimas como troféus de campeonatos esportivos. Receando que alguma visita desconfiasse de suas “decorações”, pintava as caveiras de cinza para dar a impressão de que eram instrumentos de estudantes de medicina. Tinha tanto orgulho de seus crânios que projetou transformar a sua casa em um santuário, a fim de melhorar a sua vida social e sua situação financeira.
A descoberta
O apartamento de Dahmer foi descoberto ao acaso, a partir de uma ronda de dois policiais, nas proximidades da Universidade de Marquette, em Milwaukee. Os oficiais prenderam um homem negro que corria pelas ruas algemado, pensando se tratar de um fugitivo.
O rapaz se identificou como Tracy Edwards, de 32 anos, e mencionou que estava em um encontro homossexual quando foi vítima de uma tentativa de homicídio. Ainda que relutantes com a história, os policiais se deslocaram até o endereço informado por Edwards.
Os policiais foram atendidos por um homem educado, que, de imediato, se ofereceu para buscar as chaves das algemas que estavam no quarto. Desconfiado, um dos oficiais se deslocou até o corredor da residência e percebeu que as paredes estavam cobertas por fotografias de cadáveres, vísceras e cabeças decepadas.
Na pia da cozinha, estava um torso humano rasgado; na tábua de carne próxima, um pênis fatiado, pronto ser cozido; na geladeira, uma cabeça em estado avançado de decomposição; no congelador, três cabeças acondicionadas em sacos plásticos. Além de diversos restos humanos, foram também encontrados tonéis repletos de torsos apodrecendo.
Os oficiais identificaram os restos mortais de 11 vítimas diferentes, todos homens, sendo a maioria negros. No total, Jeffrey Dahmer matou 17 pessoas, entre os anos de 1987 e 1991. Contudo, foi processado pelo Estado de Wisconsin por apenas 12 homicídios (de primeiro grau, na classificação norte-americana).
Tonel que mantinha os corpos Freezer de Dahmer no momento da captura
O julgamento
Dahmer foi levado a julgamento em julho de 1992. Ao ser questionado sobre sua declaração, disse ser culpado dos crimes pelos quais estava sendo acusado. Surpreendido com a informação, contrária à sua orientação inicial, o advogado Gerald Boyle direcionou seus esforços para que o júri considerasse Dahmer mentalmente insano.
A Defesa apresentou 45 testemunhas durante o julgamento, as quais relataram o comportamento estranho do acusado e suas desordens mentais e sexuais. Por outro lado, a Acusação, representada pelo promotor Michael McCann, demonstrava que Dahmer era frio, premeditado e perfeitamente capaz de controlar seus impulsos.
A Defesa insistiu na tese da inimputabilidade, afirmando que Dahmer era “um trem desgovernado nos trilhos da loucura”. A Acusação rebateu fortemente: “Ele não era um trem desgovernado, ele era o engenheiro!”.
Após cinco horas de deliberação, o júri chegou ao veredicto: Jeffrey Dahmer era culpado pelas múltiplas acusações de homicídio formuladas pela Acusação. Sua sentença: 957 anos de reclusão.
A morte na prisão
Dahmer foi recolhido no Columbia Correctional Institute, em Portage, Wisconsin. Embora inicialmente não fizesse parte da população geral da prisão, ele conseguiu convencer as autoridades penitenciárias a lhe permitir contato com outros detentos. Com o tempo, passou a se alimentar e trabalhar com os demais presos.
Em 28 de novembro de 1994, os agentes penitenciários do instituto deixaram Dahmer para trabalhar na companhia de dois outros presos: Jesse Anderson, um homem que havia assassinado a própria esposa, e Christopher Scarver, preso por homicídio em primeiro grau.
Quando os agentes retornaram, 20 minutos depois, a cabeça de Dahmer havia sido esmagada. Jeffrey Dahmer morreu na ambulância, a caminho do hospital.
Legado
Jeffrey Dahmer é considerado um dos assassinos em série mais notórios da história dos Estados Unidos. A crueldade e sadismo dos seus assassinatos, somado ao fato de praticar necrofilia e canibalismo, chocou o público.
Dahmer escolhia vítimas que viviam a margem da sociedade, cujo desaparecimento não chamaria muita atenção das autoridades. De fato, alguns dos assassinados não foram sequer reportados como desaparecidos até algum tempo depois.
Com exceção de uma vítima heterossexual e outra bissexual, todos os alvos de Dahmer eram gays como ele. Ativistas de direitos LGBT afirmaram que um dos motivos para as autoridades não se importarem em pegar Dahmer ou pôr ele como prioridade foi o fato de suas vítimas serem homossexuais.
Havia também um componente racial. Das suas dezessete vítimas, apenas dois eram brancos (os dois primeiros), com um sendo nativo americano, um era multi-racial, outros quatro eram de diferentes raças e nove deles eram afro-americanos.
Em entrevistas depois de preso, Dahmer negou que havia em seus ataques qualquer aspecto racial. “Eu simplesmente escolhia a pessoa que achava mais atraente, independente da raça”, Jeffrey falou em um programa da CBS em 1993.
Família de Jeffrey Dahmer
A família de Dahmer também foi afetada. Seu pai Lionel escreveu um livro, A Father’s Story (1994), onde em vários momentos culpou sua negligência na criação dele e afirmou que era perceptível ao longo dos anos as mudanças na personalidade do filho.
Joyce Flint, a mãe de Jeffrey, faleceu em 2000. Antes de sua morte, ela já tinha tentado suicídio pelo menos uma vez. Já David, o irmão mais novo de Dahmer, mudou seu sobrenome e hoje vive em anonimato.
Vítimas conhecidas
Ao todo, Jeffrey Dahmer confessou ter assassinado dezessete vítimas, mas foi condenado pela morte de dezesseis delas.