Tanya Nicole Kach nasceu em 12 de outubro de 1981, no Estado da Pensilvânia, EUA. Filha única, seu pai Jerry trabalhava como açougueiro em um mercado local e a mãe, Sherri, era atendente do McDonald’s.
Por volta do ano de 1989, sua mãe começou a apresentar um comportamento estranho. Ela passou a acumular dívidas em compras de produtos supérfluos, acusar pessoas de roubo enquanto andava pela rua e repetir frases sem sentido como se estivesse a falar sozinha.
O comportamento bizarro da mãe extrapolou todos os limites quando ela pôs fogo na mesa da cozinha em uma noite, causando um grande incêndio no cômodo da casa.
Sherri, a mãe, se torna uma prostituta
O relacionamento de Tanya com a mãe era bastante positivo, mas que passou a se deteriorar devido ao comportamento da mãe. Sherri era bastante ausente, mais ainda quando passou a se prostituir para saldar dívidas e sustentar o vício em álcool.
Já seu pai, Jerry, não parecia se envolver muito na educação filha, o resultado disso foi um final de infância e início de adolescência onde Tanya passava a maior parte do dia sozinha no quarto, fazia refeições sem supervisão e ia dormir a hora que bem entendia.
Quando a mãe estava alcoolizada descontava sua raiva em Tanya, batendo-a violentamente. Ao completar 13 anos, o casamento dos pais de Tanya, que já estava péssimo, chegou ao fim culminando em uma batalha judicial pela guarda da filha.
Tanya precisou ser ouvida pelo juiz e testemunhar contra a mãe narrando as agressões que sofria. Ela descreveu uma cena em que a mãe bateu sua cabeça contra a parede, a sufocou e a ameaçou de morte segurando uma faca de cozinha ao lado de seu rosto. A mãe foi internada em um hospital psiquiátrico e o pai permaneceu com a guarda da filha.
Os dois se mudaram para McKeesport, a fim de um recomeço. Rapidamente, através do serviço de encontros, Jerry conheceu uma mulher divorciada que tinha um filho de 7 anos. Jerry e Tanya passaram a morar com ela e o filho.
As regras na nova casa eram bastante restritas, a garota não tinha permissão para usar o telefone e seu quarto não tinha porta, o que não lhe dava a mínima privacidade. O pai apoiava totalmente qualquer decisão da madrasta, o que deixava Tanya enfurecida.
Durante o oitavo ano escolar, a menina não tinha feito muitos amigos. Era tímida e contida ao mesmo tempo que ansiava por migalhas de atenção. Ela passou a fazer parte de um grupo de alunos que matava aulas e se envolvia em brigas.
As fugas de casa começaram, Tanya sempre fugia para a casa da mãe em busca de amor e afeto, mas acabava voltando sempre para casa do pai. Sherri, que já tinha ganhado alta da clínica, passava por um período de reabilitação, mas parecia não se esforçar muito para reaver o amor da filha.
Thomas Hose, o vigilante escolar
Aos 14 anos de idade, Tanya encontrou consolo em seu novo amigo da escola, o vigilante Thomas Hose de 38 anos, comumente conhecido como Tom. O homem chegou a convencer o orientador escolar de que se pudesse ler os arquivos escolares confidencias de Tanya poderia ajudá-la a melhorar o desempenho acadêmico e social na escola.
Mas as intenções de Thomas não eram nem de longe as melhores, ele era um predador sexual e já tinha um plano pré-estabelecido em sua cabeça. Ele lhe ofereceu atenção e afeto e os dois passaram a trocar cartas com juras de amor.
Tanya, escondido da madrasta, fazia ligações telefônicas para Tom, e foi a partir daí que o relacionamento excedeu os muros da escola. Durante uma tarde em que matava aula, Thomas encontrou Tanya embaixo das escadas da arquibancada e os dois finalmente se beijaram. Fato este que se repetiu pelas semanas seguintes.
Tempos depois, Tom convidou Tanya para ir a sua casa, ele ainda morava com os pais e dividia o quarto com seu filho Justin, ainda uma criança. Ele disse a garota que os pais não estariam em casa e combinou com o filho que deveria manter segredo ao conhecer Tanya.
Os dois assistiram a um jogo de futebol no quarto de Tom e logo após fizeram sexo, essa foi a primeira vez em que Thomas Hose abusou de Tanya Kach.
Os problemas em casa parecem aumentar
As fugas da casa do pai e a frustração que tinha por não receber afeto e atenção suficiente da mãe aumentaram. Tanya chegou a ficar conhecida na cidade como uma garota problemática, fato este que contribuiu posteriormente para que permanecesse em cativeiro tanto tempo.
Após uma briga com o pai, Thomas disse a Tanya que ela poderia morar com ele, mas que no início ela precisaria “não chamar atenção”. Ela aceitou, Thomas era extremamente manipulador e sabia convencer a garota de que ela estaria prestes a viver um conto de fadas.
O pai de Tanya, por sua vez, ao dar falta da filha pensou que esta teria sido mais uma fuga para a casa da mãe e que a garota estaria de volta nos próximos dias, ele decidiu não reportar o desaparecimento a polícia. As autoridades locais já não levavam as fugas de Tanya a sério, pois esta seria a sexta ou sétima vez em que fugia naquele ano.
Tanya não volta para casa
A mãe de Tanya, Sherri, ao saber do desaparecimento da filha e perceber que ela não havia chegado em sua casa entrou em desespero. Ela lembrou que em várias vezes que Tanya dormia em sua casa, pedia para usar o telefone para ligar para um amigo.
Ao encontrar o registro telefônico, Sherri falou com Tom, que negou manter qualquer relação com a garota ou saber o paradeiro dela, ele disse que era apenas um vigilante escolar. A mãe não ficou satisfeita com isso, era estranho que a filha fizesse tantas ligações para este homem e ele dissesse que sequer a conhecia.
Em contato com a polícia, Sherri descreveu o acontecido. As autoridades não deram importância a este fato e a investigação optou por revistar as casas de Jerry, Sherri e também as dos vizinhos para os quais Tanya eventualmente havia trabalhado como babá. Nada foi encontrado.
Vivendo como uma prisioneira
Logo no início, Tom sugeriu a Tanya que mudasse a cor do seu cabelo. Ele também voltava para casa com notícias falsas dizendo que sua família não buscava por ela.
Nos anos que se passaram, Tanya viveu como uma moradora fantasma em uma casa pequenas de dois andares. Supostamente, os pais de Tom nunca souberam que a garota morava lá, mas o filho de Tom sim, este era bastante manipulado e obrigado a manter segredo. Os três dividiam o mesmo quarto.
Durante os primeiros anos haviam algumas “regras de segurança” que Tanya deveria cumprir. Ela só poderia assistir televisão usando fones de ouvidos, caminhar nas pontas dos pés para não causar barulho e usar um balde para fazer suas necessidades.
Thomas permitia que ela tomasse banho duas vezes por semana no porão durante a madrugada, enquanto todos dormiam e caso ela ouvisse o barulho de alguém subindo as escadas deveria se esconder no armário. Toda vez que mantinham relações sexuais, Tom anotava as datas no calendário e assim poderiam evitar uma gravidez indesejada.
As más condições de higiene e o uso de roupas sujas, contribuíram para um quadro extremo de psoríase na pele de Tanya, seu corpo todo era coberto por lesões que lhe causavam intensa coceira. Tom também era bastante exigente em relação ao físico de Tanya, queria que ela se mantivesse o mais magra possível, isso levou a garota a adquirir um transtorno alimentar e pesar 42kg.
Durante os feriados como Natal e Ação de Graças, Tanya deveria esperar dentro do armário até a hora em que Tom lhe viesse trazer o jantar. Ela ficava sentada no escuro esperando enquanto a família confraternizava no andar debaixo. E antes mesmo que pudesse reclamar de algo, Tom frequentemente a lembrava de que ele era o único que a amava e que tudo que fazia era por amor.
Aniversário de cativeiro
Após 24 meses do desaparecimento de Tanya, a polícia local encontrou o corpo de duas jovens na mesma cidade. O caso de Tanya veio à tona, pois os policiais relacionaram seu desaparecimento aos corpos encontrados e suspeitavam que havia um serial killer na região.
É comum nos EUA, que a foto de pessoas desaparecidas venham estampadas nas caixas de leite, isso aumenta a chance de alguém reconhecer a vítima e denunciar. A foto de Tanya circulou em milhares de embalagens na época.
O caso, que havia sido reaberto, seguiu novamente todas as pistas de dois anos atrás e os policias decidiriam ir em busca de Tom. Ao abrir a porta e ser confrontado pela polícia, Tom disse aos homens que seus pais eram idosos e estavam dormindo e não seria possível recebê-los no momento, os policiais então decidiram não revistar a casa e nunca mais retornaram.
Em junho de 2000, Tanya foi autorizada a sair da casa com a promessa de que Tom estaria procurando apartamento para os dois morarem sozinhos, ela parecia animada com isso. A garota, então com 18 anos, recebeu uma quantia em dinheiro de Thomas que permitiu que ela saísse e comprasse roupas e sapatos que lhe servissem.
Ela também foi apresentada como Nick, sua namorada, para os pais de Thomas. Tom permitiu que Tanya pudesse arrumar um emprego usando seu nome falso. Ela começou a trabalhar em um brechó local e logo após foi contratada em uma loja de conveniência.
Seu chefe na época, Joe Sparico, ficava incomodado com as respostas evasivas de Nick sobre seu endereço, telefone e algumas informações pessoais que eram pertinentes para seu contrato. Joe achou que Tanya fosse vítima de um relacionamento abusivo e sofresse violência doméstica e ele queria ajudar.
Após muita insistência de seu chefe, Tanya resolveu contar tudo e pedir que Joe mandasse a polícia até sua casa. Perplexo com o que acabara de ouvir, Joe disse que o faria, mas que ela deveria voltar para casa e fingir que não disse nada e aguardar a batida policial.
Assim que Joe relatou a história para polícia, rapidamente o centro de pessoas desaparecidas confirmou a identidade de Tanya Kach. Dentro de uma hora, a polícia cercou e invadiu a casa, Tom desceu as escadas correndo e Tanya disse a ele que finalmente tudo havia acabado.
Ela reuniu seus pertences e foi escoltada pela polícia até a delegacia. Seu depoimento foi gravado, e nessa época ela já havia completado 10 anos de cativeiro. Além das sequelas emocionais, nos meses que se seguiram Tanya precisou fazer um longo tratamento odontológico resultante da falta de higiene bucal e apresentava desnutrição e problemas na coluna, além das cicatrizes profundas de uma psoríase não tratada.
Finalmente preso
Thomas Hose foi acusado formalmente pela justiça em 2006, mais de duas semanas após a denúncia. No ano seguinte, ele confessou ser culpado. Em 26 de junho de 2007, ele foi condenado a uma sentença máxima de 15 anos de prisão, sendo negada sua liberdade de condicional, cinco anos depois.
Também foi presa a cabelereira Judith Sokol, que, segundo os promotores, mudou a aparência de Tanya para que ela não fosse notada ao mentir sua identidade. Considerada cúmplice do crime, ganhou de seis a 23 meses de prisão, somados a mais quatro anos de condicional.
Vida após o cativeiro
Tanya Kach se reencontrou de modo emocionante com a família, após mais de 10 anos sem ver os parentes.
Em 2011, Tanya lançou um livro chamado “Memoir of a Milk Carton Kid: The Tanya Nicole Kach Story“. A publicação da obra acabou gerando conflitos familiares, já que no livro a vítima dizia que sua infância turbulenta a tornou uma presa fácil para um predador sexual.
Kach foi processada então pela madrasta e pelo próprio pai, com quem não falou por pelo menos três anos até a ação da justiça. Tanya relatou ainda que o relacionamento com a figura paterna sofreu grande desgaste.
Meu pai começou a me culpar pelo que aconteceu, dizendo: “Você sabia o que estava fazendo.” Eu disse: “Pai, eu tinha 14 anos”.
Conta Tanya, em relato para um jornal dos EUA.