Stephanie Crowe tinha apenas 12 anos na época do caso. Ela morava com seus pais, a avó e os dois irmãos em Escondido, Califórnia.
A avó da garota tinha o costume de acordá-la logo cedo, e não foi diferente na manhã do dia 21 de janeiro. Ao entrar no quarto ela percebeu que a neta estava deitada no chão, e ao aproximar-se viu que seu corpo estava encharcado de sangue.
Stephanie tinha sido esfaqueada oito vezes, nada parecia indicar entrada forçada ou arrombamento. A janela do quarto da vítima estava destrancada, mas não haviam pegadas ou vestijos de sujeira que sugerissem um intruso.
A porta da sacada do quarto dos pais também estava aberta, mas era costume da família mantê-la apenas encostada.
Investigação
A polícia foi chamada em seguida, nenhuma arma do crime foi encontrada na cena. Roupas ensanguentadas ou que pudessem conter vestígios do crime também não foram encontradas.
As roupas que todos da casa usavam naquele dia foram confiscadas e seus corpos foram examinados em busca de ferimentos. Os pais e a avó foram alojados em um hotel, enquanto os irmãos de Stephanie foram levadas para um abrigo do governo. Os pais não viram os filhos durantes dois dias.
O irmão de 14 anos de Stephanie, Michael Crowe, foi interrogado por horas pela polícia usando o método Reid sem sequer a presença de um de seus pais ou advogado.
Método Reid: A técnica é conhecida por criar um ambiente de alta pressão para o entrevistado, seguido de simpatia e ofertas de compreensão e ajuda, mas apenas se houver uma confissão. Os críticos dizem que a técnica resulta em uma taxa inaceitavelmente alta de confissões falsas, especialmente de jovens e deficientes mentais.
Michael Crowe se tornou o principal suspeito da polícia. A cena do crime parecia sugerir que o criminoso conhecia a casa e a vítima, e era capaz de mover-se no escuro sem gerar qualquer barulho. Conhecidos disseram que o garoto mostrou-se distante após a morte da irmã, e que não demonstrou lágrimas ou tristeza.
O interrogatório da polícia pode não ter seguido a melhor linha. Os policiais chegaram a mentir para Michael que possuiam evidências de DNA que o tornavam culpado e que ele não havia passado em um suposto “teste da verdade”, além de dizer que seus pais acreditavam que ele havia matado a irmã.
Michael negou qualquer envolvimento centenas de vezes, mas em um determinado momento acabou confessando. Ele admitia ter cometido o crime e quando lhe solicitavam os detalhes dizia não lembrar, como se estivesse fora de si na hora do assassinato. Por isso é importante entender como funciona um processo criminal.
Joshua Treadway e Aaron Houser, os amigos do irmão
Os amigos de 15 anos de Michael Crowe, Joshua Treadway e Aaron Houser também foram interrogados pela polícia. Houser era um colecionador de facas; os pais do garoto constataram que um dos objetos estava faltando no acervo.
No dia seguinte, a faca faltante apareceu na casa de Joshua. Quando questionado, disse ter pedido emprestada para o amigo. Ele foi continuamente interrogado por onze horas, das 21h daquele dia até as 8h do dia seguinte, a polícia afirmava que a faca era a arma do crime mesmo não havendo qualquer evidência de DNA.
Eles o interrogaram novamente duas semanas depois, em uma nova entrevista de 10 horas durante a qual Joshua deu uma confissão detalhada de participação no assassinato com os outros dois meninos. Ele foi então preso.
A partir da confissão de Joshua, Aaron Houser também foi preso e interrogado. Ele não confessou e negou qualquer envolvimento, mas apresentou um relato “hipotético” de como Stephanie Crowe poderia ter sido morta.
Richard Raymond Tuite, vizinho com esquizofrenia
Na manhã pós assassinato, a polícia também entrevistou Richard Raymond Tuite, um homem portador de esquizofrenia de 28 anos que havia sido visto no bairro de Crowe na noite do assassinato, batendo nas portas e olhando nas janelas. Vários vizinhos ligaram para a polícia denunciando uma pessoa suspeita.
Ele tinha uma extensa ficha criminal, perambulava habitualmente pelas ruas de Escondido e não fazia tratamento para seu transtorno mental. Suas roupas foram recolhidas, havia arranhões em seu corpo e um corte em sua mão.
No entanto, ele não era considerado suspeito. A polícia acreditava que ele estava apenas sofrendo com os sintomas de sua doença e seria incapaz de machucar uma criança. O alvo da polícia estava totalmente direcionado para Michael Crowe.
Julgamento
Os três adolescentes foram acusados de assassinato e conspiração para cometer assassinato. Um juiz decidiu que eles deveriam ser julgados como adultos.
Testes de DNA encontraram três gotas de sangue de Stephanie em uma camisa pertencente a Richard Tuite. Apesar da defesa alegar “contaminação por trabalho policial descuidado”, isso mudou completamente o rumo do caso.
No primeiro dia de julgamento, Richard Tuite saiu da sala do tribunal para almoçar, enquanto comia conseguiu libertar-se das algemas e deixou o tribunal embarcando em um ônibus. Ele foi pego horas depois.
No julgamento, a promotoria vinculou Richard Tuite ao assassinato de Stephanie, apresentando evidências circunstanciais e físicas, incluindo evidências de que o sangue de Stephanie estava em suas roupas. O tribunal condenou Richard a treze anos de prisão. Ele posteriormente teve mais quatro anos adicionados à sentença devido à sua tentativa de fuga.
As famílias dos três meninos processaram as cidades de Escondido. Os Crowes chegaram a um acordo de US$ 7,25 milhões em 2011. Em 2012, o juiz do Tribunal Superior Kenneth So fez a rara decisão de que Michael Crowe, Treadway e Houser eram inocentes das acusações, arquivando permanentemente o processo criminal contra eles.
Desfecho surpreendente
Richard Tuite recorreu várias vezes de sua sentença, alegando falha de investigação, violação de direitos fundamentais e problemas com a evidência de DNA. A ele foi concedido um novo julgamento, que começou em 24 de outubro de 2013.
Nas alegações finais, seu advogado, disse aos jurados que Richard Tuite nunca esteve dentro da casa dos Crowe, e mesmo que estivesse não teria sido capaz de encontrar o quarto de Stephanie no escuro.
Além disso, os investigadores não encontraram suas impressões digitais ou DNA na residência. Ele ainda disse que Stephanie deve ter sido pressionada sob um edredom para mantê-la quieta, enquanto outra pessoa a esfaqueava.
Especialistas testemunharam que as manchas de sangue nas camisas de Richard não estavam lá quando foram avaliadas originalmente.
A promotoria disse em seu argumento final que Richard Tuite estava na área da casa dos Crowe na noite em que Stephanie foi morta. Ele estava batendo nas portas e acabou entrando na residência já que procurava uma mulher chamada Tracy, com quem estava zangado após o término de um relacionamento.
Em 5 de dezembro de 2013, o júri retornou um veredito de inocente para Richard. Um jurado disse que não haviam evidências de que Tuite estivesse na residência Crowe naquela noite, e que os jurados estavam preocupados que o sangue da vítima pudesse ter entrado em suas roupas por contaminação, e que esse foi o fato que mais corroborou para a decisão.
Stephanie Crowe segue até hoje sem solução.