A turista italiana Gaia Molinari, de 29 anos, já estava há algum tempo viajando em território brasileiro. Primeiramente foi para São Paulo, onde passou alguns meses realizando trabalho voluntário, depois viajou para um hostel em Fortaleza, onde trabalhava em troca de acomodação e comida. Essa prática é comum nestes estabelecimentos.
Foi nesse hostel, no dia 14 de dezembro de 2014, que conheceu a carioca Mirian França, que lhe convidou para visitar Jericoacoara, no Ceará. A Mirian havia comprado a passagem e acomodação para sua mãe, porém com a desistência dela, agora Miriam estava procurando alguém para substituí-la.
Como tudo já estava pago, Gaia não pagaria nada pela acomodação e as duas só dividiriam gastos de alimentação. Então ela aceitou. Segundo relatos de amigos, Gaia estava um pouco desconfortável, pois recém tinha conhecido Miriam, mas já havia aceitado e não queria voltar atrás e fazer desfeita. Elas viajaram no dia 21 de dezembro de 2014.
A passagem de volta estava marcada para três dias depois da chegada, 24 de dezembro as 22h20min, véspera de Natal. Mas quando chegou a hora de voltarem, Gaia não compareceu. Miriam estranhou, mas retornou para casa mesmo assim.
Como elas se conheciam a muito pouco tempo e a Gaia tinha uma postura muito mais expansiva, Miriam achou que nada de relevante tivesse acontecido, e apenas tomou seu ônibus de volta.
Comportamento de Gaia e Mirian
Considerada por muitos uma pessoa alegre, extrovertida e bem-humorada, os amigos de Gaia não relatavam ela como uma pessoa ingênua. Apesar de ser italiana, morava em Paris e largou o emprego para viajar pelo mundo.
Já Mirian tinha um comportamento bastante oposto ao de Gaia, era uma pessoa mais introvertida e não tinha a mesma facilidade para fazer amigos. Por causa disso, quando chegaram em Jericoacoara, a rotina das duas foi diferente. Enquanto Mirian tinha uma postura mais recatada, a Gaia preferia ambientes com agitação, como bares e festas.
Corpo encontrado
A última vez que Gaia foi vista com vida foi no dia 24 de dezembro as 18h30min. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, no caminho de Jericoacoara para a Pedra Furada, em torno do meio-dia por um casal de turistas. Ela estava com sinais de fortes golpes sofridos no rosto, sua causa da morte foi declarada como asfixia por estrangulamento pela equipe de perícia.
Ela estava vestida com biquíni e canga, sua mochila estava nas costas, e havia um estilingue próximo da cena do crime. As mãos estavam roxas, como se tivessem sido amarradas. Pelas condições do corpo, não faziam muitas horas que ela havia morrido, além de não apresentar indícios de abuso sexual.
Pelos exames de saúde, Gaia havia consumido álcool, porém não havia utilizado drogas.
Principais suspeitos
Várias pessoas foram investigadas e postas como suspeitas de participação no assassinato. Um morador da região constantemente visto portando um estilingue; um italiano instrutor de windsurf conhecido da Gaia; um casal de namorados composto por um uruguaio e uma francesa, que pegaram um ônibus juntos alguns dias antes; um morador de Jericoacoara suspeito de tráfico de drogas. Entre outros.
Nenhum desses suspeitos aparentavam ter envolvimento, existiam poucos argumentos que ligavam eles ao crime. Com exceção de Miriam França. Ela foi chamada para fazer alguns depoimentos, e segundo os investigadores, ocorreram algumas incoerências.
A principal incoerência que chamou muito a atenção da delegada Patrícia Bezerra, se deu a respeito do italiano instrutor de windsurf. A versão dos dois era muito diferente, enquanto Miriam alegava frequentemente o envolvimento do italiano na rotina de Gaia, ele disse que mal conversou com ela.
Quando coloquei os dois frente a frente, ela desmoronou e retirou todas as afirmações que tinha feito sobre o italiano. Eles tomavam café todo dia, confirma? Não. Ele dava em cima dela? Não. Saiu com ela da pousada? Não.
Relatou a delegada ao justificar a prisão preventiva de Miriam.
Além disso, Miriam falou para a polícia que a estadia da Gaia era até dia 25 pela manhã, mas na verdade a estadia encerrava um dia antes, véspera de natal, também pela manhã. Mirian que havia comprado as passagens e a estadias, não tinha como se enganar. Esse pareceu um argumento pra tentar justificar o porquê ela saiu de Jericoacoara sem estar acompanhada de Gaia.
Mirian alegou em entrevista que não houve incoerência nenhuma, que ela repetiu a mesma história.
Prisão de Mirian França
Uma delegada apurou as provas do crime, um juiz analisou-as e decretou a prisão preventiva de Mirian. Então alguns grupos ativistas intervieram no caso, alegando que Miriam só foi presa porque era mulher e negra. Por conta dessa pressão, Mirian foi libertada e então trocaram o departamento de polícia responsável pelo caso.
Principais teorias
A perícia identificou que Gaia havia ingerido álcool, e no momento que seu corpo foi encontrado haviam passados poucas horas desde sua morte. Com isso surgi uma das teorias de que ela estava em uma festa ou bar na noite anterior.
1ª teoria: Essa teoria sugere que ela foi persuadida a ir até o local do crime, ou então simplesmente foi por vontade própria para conhecer novos lugares na região, negou atividades sexuais e num momento de fúria os criminosos agiram intempestivamente e mataram Gaia. Esses se assustaram e fugiram da cena do crime, provavelmente também estavam alcoolizados, já que deveriam estar na mesma festa.
2ª teoria: Mirian teria feito o meio de campo entre Gaia e seus assassinos. Existem evidências de que Mirian possuía uma relação estreita com um traficante local, não ficou estabelecido se este vínculo era amoroso ou não. No momento que ela foi presa havia maconha na sua bolsa, que foi comprada em Jericoacoara. Nesse envolvimento de Mirian com os traficantes locais, eles podem ter conhecido a Gaia. Nesse momento ela já estaria na mão de pessoas de índole muito baixa, que podem ter vindo a matá-la por algum motivo.
Haviam testemunhas de que Miriam realmente deixou a cidade um dia antes, assim como haviam evidências de que no momento de que o corpo da Gaia foi encontrado, haviam passado poucas horas desde sua morte, e também de que seu assassinato foi executado por mais de uma pessoa. Com isso é evidente de que não foi Miriam que assassinou Gaia, porém suas atitudes suspeitas e depoimentos controversos, podem indicar seu envolvimento de alguma forma no crime.
“Uma turista em Jericoacoara, em seu último dia na cidade ia passar o dia trancada na pousada, na recepção? Pois elas já tinham feito o check-out ao meio dia. Ela ficou transitando da rede para um sofá, sem falar com ninguém. Isso é estranho. Na noite de Natal, ela não falar com ninguém, enrolada numa manta, num calor que fazia naquela noite?”
Relatou a delegada Patrícia Bezerra, primeira responsável pelo caso.
Na região onde o corpo foi encontrado outros assaltos já ocorreram, por isso, apesar de pouco provável, também existe a possibilidade de ter sido um assalto que deu errado, e o crime ter ocorrido apenas porque Gaia estava no local errado e na hora errada.
Mirian teve atitudes suspeitas, ela pode saber da verdade história e nunca ter revelado por medo dos assassinos, ou então não ter tido envolvimento algum.
O fato é que muitos anos depois e o caso continua em aberto e Gaia Molinari segue sem receber justiça.