Maria Matilde Martins de Jesus nasceu no dia 14 de Janeiro de 1955, na ilha da Madeira, Portugal. Ela tinha 11 irmãos, entre homens e mulheres, e todos moravam em uma zona rural e obtinham seu sustento através das tarefas do campo.
Durante sua adolescência, Maria conheceu um jovem rapaz na escola, seu nome era Fernando. O romance acabou quando o jovem garoto, aos 18 anos, se alistou no exército e acabou falecendo durante uma missão em Angola. Ela sempre falou dele com carinho, e segundo sua família, Fernando foi o grande amor de sua vida.
Quando Maria tinha 19 anos, ela conheceu outro homem chamado Manoel, os dois se casaram e se mudaram para a Austrália. No ano de 1976 o casal foi morar em Greenville, e juntos tiveram uma filha chamada Laura.
Infelizmente, quando Laura tinha 9 anos de idade, seu pai Manoel faleceu após um ataque cardíaco. As duas ficaram sozinhas e a situação dolorida fortaleceu os laços de mãe e filha.
Joseph William Korp, uma teia de mentiras
Após um tempo viúva, Maria começou um relacionamento com o gerente da fábrica de pneus onde trabalhava, Joseph Korp, ou apenas Joe como era conhecido pelos amigos.
Joe era um homem ambicioso, que gostava de esportes em grupo e um tanto mulherengo. Era sabido que ele dava em cima de várias mulheres e insistia até que aceitassem sair com ele, depois disso se tornava possessivo. Sua primeira esposa e filha eram proibidas de usar maquiagem.
Quando Joe conheceu Maria, ele ainda estava casado com sua primeira esposa e tinha dois filhos deste relacionamento. Mesmo assim ele chamou Maria para sair e omitiu a informação de que era casado. Uma tática de Joe era nunca usar aliança e assim poderia passar-se como solteiro quando fosse conveniente.
Meses depois, sem que Maria soubesse, Joe Korp se divorciou da primeira esposa. Logo após pediu Maria em casamento, eles se casaram em 29 de outubro de 1991 e dois anos depois nasceu Damien, o único filho do casal.
Durante uma visita de Maria a sua família no Portugal, Joe Korp foi totalmente inconveniente, menosprezando o estilo de vida humilde de seus familiares. A família, constrangida com a situação, fez vista grossa para situação e confiaram na felicidade que Maria parecia exibir em seu rosto.
A casa dos sonhos
Em 1998, Joe Korp comprou um terreno de tamanho equivalente a 8 acres onde planejava construir uma casa para família. A obra levou sete anos, e quando concluída a propriedade contava com cinco quartos, dois banheiros, sala de cinema, galpão, escritório, um jardim enorme e até uma capela para Maria que era extremamente católica.
No ano de 2000, Maria costumava sempre sair de seu trabalho por volta das 15h e logo em seguida buscar Damien na escola, mas no dia 9 de fevereiro de 2005 isso não aconteceu. Joe Korp recebeu uma ligação da escola do filho, dizendo que Maria não havia ido buscar o garoto, ele disse que não sabia o que tinha acontecido e rapidamente foi até lá.
Ao chegar em casa, Joe percebeu que o carro de Maria não estava na garagem. Por volta das 17h30min ele saiu de casa para procurar Maria pelo bairro, e como não obteve sucesso, às 19h do mesmo dia foi até a polícia comunicar seu desaparecimento.
Busca por Maria Korp
Nos casos de esposas desaparecidas é comum que o marido seja o primeiro suspeito, e foi assim que a polícia trabalhou confiscando o celular de Joe. A investigação no aparelho telefônico não revelou nada, soube-se apenas que Joe não havia falado com a esposa naquele dia.
Em interrogatório para a polícia, Joe disse que ele e a esposa estavam tendo problemas no casamento, mas que não acreditava que isso fosse suficiente para ela fugir, principalmente porque segundo ele, Maria era uma ótima mãe e jamais abandonaria seus filhos.
Até então não haviam indícios de sequestro ou assassinato, as contas bancárias não tiveram movimentação e o histórico de chamadas do celular de Maria não mostrava nenhum número estranho.
A história só pareceu avançar quando o supervisor do trabalho da Maria foi ouvido e informou que naquele dia ela não havia aparecido no trabalho, e no dia anterior teria chegado atrasada porque estava no tribunal removendo uma ordem de restrição contra o marido por violência doméstica e intimidação.
Na noite do dia 9 de fevereiro, o irmão de Joe, Gust Korp ligou para a polícia e disse que acreditava que Joe estivesse envolvido no caso de alguma forma, já que mais cedo havia recebido uma ligação dele, onde dizia apenas: Gust, eu estou ferrado.
Outras duas informações de grande relevância foram dadas pelo irmão, ele disse que dias antes Joe havia forçado Maria a mudar seu testamento para que ele fosse o único beneficiário e que mantinha uma amante chamada Tânia Herman.
Ele chegou a falar que além de Tânia, Joe se relacionava com várias outras mulheres de maneira casual, já que o irmão sempre comentava que Maria tinha muitas restrições sexuais devido ao fato de ser católica e não o satisfazia na cama.
É importante citar que Joe pressionava muito Maria em questões sexuais, por um tempo ela passou a usar roupas que revelavam mais o seu corpo contra sua vontade, apenas no intuito de agradar o marido. Ela acreditava que a culpa por ser traída era totalmente dela, já que seu comportamento sexual não era suficiente para Joe.
Maria perdeu muito peso e ficou bastante deprimida nessa época, mas seguiu na luta para salvar seu casamento a todo custo.
Laura, a filha de Maria, também foi ouvida e disse que naquela manhã ouviu um grito vindo da frente da casa por volta das 6h30min. A polícia anotou essa informação, que futuramente se encaixaria no desfecho do caso.
Uma colega de trabalho de Maria também foi a delegacia com um saco plástico em mãos. Ela disse que Maria havia deixado o pertence com ela e dito que deveria entregar para polícia caso acontecesse alguma coisa com ela, e o que o conteúdo do saco revelaria quem realmente era Joseph Korp.
No pacote haviam coisas estranhas e até sem utilidade como uma mangueira, alguns recibos, um distintivo falso, um diário de Maria escrito em português e uma foto sensual de uma mulher loira que seria Tânia Herman. Isso comprova que Maria sabia do relacionamento extraconjugal do marido antes de desparecer.
Quem era Tânia Herman?
Tânia conheceu Joe em um site de relacionamentos no ano de 2003. Ela era mãe solteira de uma menina e já havia se casado duas vezes antes de conhecê-lo.
Ao contrário de Maria, Tânia era bem aventureira em questões sexuais. Ela gostava de tentar coisas novas, mas também tinha o objetivo de se casar novamente algum dia. Ela não sabia que Joe era casado, e enquanto ele esteve com ela usava um sobrenome falso. O homem frequentava sua casa e dava muitos presentes para ela e a filha.
Em um dado momento Joe falou sobre seu casamento, Tânia ficou arrasada mas estava muito apaixonada para deixá-lo. Ele também falava muito mal de Maria, transformando-a em uma péssima pessoa aos olhos de Tânia.
Interrogado pela segunda vez
Às 14h do dia 10 de fevereiro, Joe Korp foi interrogado outra vez e quando questionado sobre a ordem de restrição, disse que meses antes ela o havia expulsado de casa e jogado todas as suas roupas na rua ao descobrir uma traição. Nessa data ele afirmou que Maria trocou todas as fechaduras e que também jamais havia machucado a esposa.
Ele disse que a ordem de restrição teria sido uma espécie de vingança, onde Maria alegou que havia sofrido violência no intuito de prejudicar sua imagem. Logo depois eles teriam feito as pazes, e Joe não repetiria o erro. Ainda em frente aos policiais, disse que no mesmo dia terminou com Tânia e os dois nunca mais se falaram.
Após sair da delegacia, dois policiais a paisana o seguiram, Joe dirigiu alguns quarteirões, parou ao lado de uma lixeira e descartou um saco plástico preto. A polícia recolheu o objeto e dentro dele foram encontrados uma chave reserva da casa, uma bala clava, um walkie-talkie, um pote com um pó branco, fotos, recibos e um caderno.
Uma nova busca foi feita naquela noite na casa da família Korp, onde um cartão de acesso da empresa de Joe foi encontrado e recolhido, o que posteriormente provou que ele estava desviando dinheiro da empresa.
Laura disse aos policiais que Joe estava agindo de forma estranha e já planejava o funeral de sua mãe. Enquanto isso, outra equipe estava na casa de Tânia Herman colhendo seu depoimento.
Tânia Herman fala com a polícia
Tânia foi bastante colaborativa, deu todas as informações pedidas e disse que em nenhum momento Joe terminou seu relacionamento com ela. Durante a conversa, Tânia fez questão de mostrar o contrato do aluguel de sua casa, onde Joe Korp havia assinado em conjunto como um dos moradores.
Uma lista de papel amassada foi encontrada na lixeira da casa de Tânia, e dizia: luvas, bala clava, shampoo, condicionador, meias e uma faca.
Quando questionada porque não foi trabalhar no dia 9 de fevereiro, Tânia disse que sua filha estava doente e precisou ficar com ela em casa, o que foi comprovado pelo depoimento das professoras da escola da menina. E naquele dia mais tarde, por volta das 10h da manhã, ela havia passado no trabalho de Joe e lhe entregou um sanduíche.
Ela concluiu seu depoimento dizendo que sentia muita raiva de Maria, porque ela havia sido um empecilho para que os dois vivessem seu caso de amor, mas que não imaginava o porque de seu sumiço. Joe dizia a ela que não pediria o divórcio com Maria porque não queria abrir mão da casa que levou sete anos para construir.
13 de fevereiro, Maria Korp é encontrada com vida
Através de uma denúncia anônima, o carro de Maria Korp, um Nissan Mazda vermelho, foi encontrado estacionado perto do Santuário da Lembrança, em Melbourne.
Ela foi encontrada no porta malas do carro, inconsciente, com ferimentos na cabeça e severamente desidratada. Maria foi levada para o hospital, lá foi colocada em coma induzido e ligada aos aparelhos médicos.
Três dias após, a polícia acusou formalmente Joseph Korp de 47 anos e Tânia Herman, de 38, por tentativa de homicídio, conspiração para assassinar e intenção de causar ferimento grave. Ele foram levados sob custódia no mesmo dia.
Tânia confessa tudo
Tânia confessou o crime em 8 de junho, dizendo que tudo havia sido arquitetado por Joe Korp. Ela teria surpreendido Maria naquela manhã e as duas entraram em luta corporal, após alguns segundos ela arremessou a vítima no chão, momento em que Maria bateu fortemente sua cabeça.
A investigação policial acredita que nesse momento Maria Korp teria dado um grito, fato que confere com o depoimento de Laura. Logo em seguida, Tânia colocou Maria no porta malas e dirigiu até o local onde o carro foi posteriormente encontrado.
Ela disse que Joe a havia instruído a retirar todas as joias de Maria, e assim ela o fez. Tânia afirmou que após colocá-la no porta malas não conseguiu confrontá-la novamente, deixando a cena sem saber se Maria já estava realmente morta.
A investigação sugere que a intenção de Joseph Korp era se livrar das duas mulheres e usufruir do testamento de Maria, já que uma estaria morta e a outra seria presa.
Tânia Herman foi condenada a 12 anos de prisão sem direito a liberdade condicional pelos primeiros nove anos. Joe Korp se declarou inocente de todas as acusações e mais tarde foi libertado sob fiança em 9 de junho, e submetido a julgamento. Ele ainda ganhou o direito de visitar a esposa no hospital sob supervisão policial, onde a beijou e fez uma oração.
Enquanto isso, o prognóstico de Maria Korp era bastante negativo, e em 26 de julho sua condição foi descrita como terminal. Ela morreu às 2h da manhã de sexta-feira, 5 de agosto de 2005 e nunca foi capaz de verbalizar o que aconteceu ou de acusar o criminoso.
Suicídio repentino
Uma semana depois da morte de Maria, Joe Korp foi encontrado morto em sua casa. Ele estava pendurado ao lado de uma escada, com um laço no pescoço. Em volta de seu corpo haviam fotos de Maria espalhadas pelo chão e bilhetes alegando sua inocência.
O relatório do legista confirmou que ele estava bastante embriagado no momento de sua morte. A mídia sugere que ele estava falando com seu advogado pelo celular no momento da morte, sem ter certeza ainda do que estava fazendo, e que um possível tropeço na escada teria ocasionado o enforcamento prematuro.