Karina Anne Vetrano nasceu em 12 de julho de 1986. Ela tinha 30 anos na época do caso e era moradora do Queens, um famoso bairro de Nova York.
A jovem era fonoaudióloga, com mestrado em patologia e trabalhava na cidade auxiliando crianças autistas em idade escolar. No seu tempo livre escrevia alguns roteiros como hobby, e um deles chegou até a virar um curta metragem, tendo a participação de Karina como atriz.
Seus pais eram Philip e Cathie Vetrano, o casal tinha um ótimo relacionamento com a filha e eles moravam no mesmo bairro de Karina, apenas a alguns quarteirões de distância. O pai era um bombeiro aposentado sendo, inclusive, um dos primeiros a atender vítimas do atentado em 11 de setembro de 2001.
Corrida no Sprink Creek Park
Karina Vetrano era muito bonita, tinha um corpo atlético e estava habituada a correr com o pai nos finais de tarde em um parque localizado a uma quadra de sua casa. No dia 2 de agosto de 2016, Philip estava com uma lesão nas costas e isso o impossibilitou de acompanhar a filha na atividade física.
Pelo telefone, o pai repetiu várias vezes que não se sentia seguro em deixar Karina correr sozinha naquela área, mas a filha o convenceu e ele pediu então que mandasse notícias ao voltar pra casa.
Durante a corrida, Karina chegou a trocar mensagens de texto com uma amiga até o momento em que parou subitamente de respondê-la. Algumas horas se passaram e os pais estranharam a falta de notícias e o celular desligado. Philip começou a ficar desesperado.
Devido ao tempo como bombeiro, o pai de Karina ainda mantinha algumas amizades com autoridades locais. Rapidamente ele contatou um de seus amigos, investigador da polícia de Nova York, que montou um grupo de busca no local onde a garota teria estado pela última vez.
Corpo encontrado em uma trilha
Por volta das 23h do mesmo dia, o grupo encontrou o corpo de Karina Vetrano em um raio de aproximadamente cinco metros de distância de onde ela normalmente corria. O short de Karina estava ao lado do corpo, e seu sutiã e calcinha estavam fora do lugar, deixando suas partes íntimas a mostra.
Tudo indicava uma cena de abuso sexual, e ainda haviam hematomas e arranhões indicando que Karina lutou bravamente por sua vida. A área era cercada por vegetação densa e habitualmente frequentada por moradores de rua que faziam uso de álcool e drogas no entorno.
A autópsia revelou que Karina foi atingida por uma pedra na nuca e seus dentes chegaram a rachar de tanta força que fez para morder seu agressor. Nas mãos da vítimas haviam tufos de grama que indicavam que Karina tentou se prender ao chão enquanto era arrastada pelo agressor. A causa da morte foi dada por estrangulamento, visto que tamanha violência deixara marca dos dedos do agressor em seu pescoço.
O DNA do agressor foi encontrado sob as unhas de Karina, em seu pescoço e também em seu celular que foi arremessado alguns metros para dentro da mata. Uma recompensa de 10 mil dólares foi oferecida em troca de informações sobre o caso, e a polícia acreditou que ter o DNA do criminoso tornaria tudo mais fácil e rápido, o que não era necessariamente verdade.
As amostras não cruzaram com nenhum dado do banco de dados nacional do FBI e foram seguidas mais de 200 pistas sobre o caso, mas nenhuma delas levou a lugar algum.
Vanessa Marcotte, mais uma vítima?
Apenas uma semana depois, outra mulher de 27 anos foi encontrada morta em um trecho rural de uma estrada em Massachussets. O caso tinha muitas semelhanças com o de Karina Vetrano. Vanessa Marcotte também havia sido atacada, violentada e morta enquanto praticava exercício físico ao ar livre.
Várias dúvidas começaram a surgir na mídia: será que os assassinatos tinham relação? Havia mesmo um serial killer a solta? Na época, jornais locais deram ênfase e produziram muitas matérias que relacionavam os assassinatos a vulnerabilidade e falta de segurança quando se é mulher. A polícia, por sua vez, seguia com poucas ou quase nenhuma resposta.
As amostras de DNA encontradas na cena do assassinato de Vanessa revelaram que não haviam semelhanças entre os casos, inclusive o caso Marcotte só foi resolvido em abril de 2017. A partir desse momento a polícia focou em depoimentos e também em um vídeo de camêra de segurança que mostrava Karina correndo normalmente as margens da estrada minutos antes do ataque.
Retrato falado, um homem de interesse da polícia
Em 31 de agosto de 2016, um retrato falado foi divulgado na mídia através do depoimento de um trabalhador local. O homem viu o suspeito sair correndo de uma trilha visivelmente machucado, ele teria caminhado a uma rodovia próxima do parque, segundo relato da testemunha.
Em dezembro de 2016 a polícia de Nova York, junto ao FBI, desenvolveu um perfil do suspeito, e as informações foram divulgadas seguidas de uma cópia do retrato falado. Em 4 de fevereiro de 2017, a polícia anunciou que um suspeito havia sido interrogado, acrescentando que Chanel Lewis, um morador do Brooklyn de 20 anos se encaixaria perfeitamente no perfil, inclusive genético comparado ao DNA encontrado na cena.
Lewis estava desempregado na época e vivia com os pais, três irmãs e seus filhos em uma casa custeada pelo governo e destinada a pessoas de baixa renda, situada a 5km de distância do local do crime. Lewis não tinha ficha criminal, mas em testemunho um de seus professores relatou que o garoto, certa vez, disse que tinha muito ódio das meninas da classe e tinha vontade de esfaqueá-las.
Somado a isso, haviam três intimações policiais para Lewis, duas delas por violar regras do Parque Sprink Creek e uma por urinar em público. Em maio de 2006 uma pessoa havia denunciado o garoto de maneira anônima, dizendo que ele estava rondando casas com um pé de cabra nas mãos, mas nada disso ocasionou um delito maior.
Chanel Lewis parece mesmo ser o agressor
A mãe de Lewis, quando procurada pela polícia, contou que na noite de 2 de agosto de 2016, mesma data da morte de Karina, o filho chegou em casa com a roupa rasgada e suja de sangue. Ao questioná-lo, ele disse que havia sido assaltado, mas ela percebeu que nenhum de seus pertences tinha sido levado. O garoto não quis realizar um boletim de ocorrência.
No dia seguinte, em 3 de agosto, Lewis teve uma discussão familiar. O pai resolveu intervir e levou o garoto até um hospital no intuito de buscar atendimento para os ferimentos que estavam sangrando ainda do dia anterior. Tudo correu normalmente. Ele foi medicado e retornou para casa neste dia.
Durante o primeiro depoimento de Chanel Lewis ele confessou o crime, dizendo a polícia que matou Karina porque sentiu muita raiva dela. Mais detalhes não foram dados pelo garoto neste dia, não se sabia até então se Lewis já conhecia Karina ou foi apenas uma vítima escolhida ao acaso.
A família de Lewis até hoje não acredita que ele tenha envolvimento com o caso, mesmo que muitas provas refutem essa ideia. O primeiro julgamento ocorreu em 5 de novembro de 2018.
Em frente ao juiz
Lewis se declarou inocente de todas as nove acusações, e um promotor público pediu que pelo menos cinco delas fossem retiradas e o juiz acatou. Chanel Lewis ficou com apenas quatro acusações: uma por assassinato em primeiro grau, duas por assassinato em segundo grau e uma de abuso sexual em primeiro grau.
O primeiro julgamento acabou sem um veredito, pois o júri estava dividido, fato que gerou muita repercussão na cidade já que haviam provas suficientes para condenação. Em 27 de novembro de 2018 o juiz declarou a anulação do primeiro julgamento e outro foi marcado para abril de 2019, onde Chanel Lewis foi considerado culpado pelas quatro acusações.
Em 23 de abril de 2019 Lewis foi condenado a prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, o garoto continuou a se dizer inocente. A defesa, neste dia, tentou levantar hipóteses de má conduta do júri, mas nada que fosse sustentável se provou.
Grupos comunitários pedem revisão do caso
Em 2021 líderes comunitários fizeram um pedido formal de reabertura e revisão do caso. Eles acreditam que o garoto é inocente e que houve corrupção por parte de um dos promotores.
Em nota, o grupo se mostrou preocupado com ações de racismo por parte da polícia, visto que Chanel Lewis era um jovem negro. Eles ainda afirmam que sua confissão teria sido obtida de maneira ilegal, através de coação.
Até o momento o caso segue encerrado, e Lewis cumpre sua pena de prisão perpétua.